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Divulgação geocientífica: qual a sua necessidade?

A comunicação científica é um processo natural ao se fazer ciência. E sua relevância é unânime entre os cientistas. Assim, através da história da evolução do pensamento científico, foram estabelecidos determinados canais de comunicação de divulgação do saber. Entretanto, tais canais são de interação apenas entre os pares da ciência, sendo de certa forma uma comunicação limitada, que não atinge o grande público em geral. E mesmo quando consegue, é ineficiente, não sendo compreendido por ele. Quais seriam as condições negativas e os problemas que podem se originar do distanciamento com a divulgação geocientífica?

Está é uma realidade que atinge a maioria, senão todas as áreas do conhecimento. Gostaríamos de apresentar com esse texto, tal questionamento relacionado a geociências. Ou seja, quais os problemas gerados pela ausência da divulgação geocientífica na sociedade no geral.

 

Primeiro: O que são as geociências?

Geociências ou Ciências da Terra, são termos que abrangem as áreas do saber que ocupam-se do estudo do planeta Terra. Elas se empenham na procura da origem, composição e a evolução do planeta, além da compreensão de seu tempo geológico a partir de outros conhecimentos, como a física, matemática, química, geografia e biologia. Nesse sentido, a conjuntura destes conhecimentos, deu origem a área do saber chamada Geologia, que detém como profissional caricato o Geólogo. Além deste, outros profissionais das geociências ou correlatos são os Geógrafos, Oceanógrafos, Meteorologistas, Geofísicos, Paleontólogos e Engenheiro de Minas, que ocupam-se de outros aspectos do nosso planeta.

 

O principal objeto de estudo da geociências sãos as rochas. Fonte: Anne Burgess cc-by-sa/2.0

 

Semelhante aos outros cientistas, os geocientistas se utilizam do método científico: formulando hipóteses após a observação e recolhimento de dados sobre os fenômenos naturais. Para, assim, executar testes de validação ou refutação dessas hipóteses.

Entretanto, a geologia apresenta um peculiar modo de trabalho, devido ao seu objeto de estudo. A formulação de hipóteses e sua confrontação tangência a especulação. Isso acontece em grande parte porque não há a possibilidade de observação da ocorrência dos eventos e a realização de teste condizentes com objeto de estudo, por causa do longo tempo de ocorrência destes processos em relação a vida humana. Ou seja, estaremos majoritariamente nos deparando com o resultado final dos fenômenos estudados. Mas como qualquer outra ciência, os dados recolhidos são de extrema importância para formulação de hipóteses ou testes.

 

Afinal, do que se trata a divulgação geocientífica?

Inicialmente, qual seria o objetivo da divulgação científica como um todo? Ela tem a premissa de realizar a entrega de conhecimento de maneira a promovê-lo ao público específico ou geral. Dessa forma, o foco é o conhecimento científico, que se caracteriza como uma busca pela democratização ao seu acesso. Isso quer dizer que sua pretensão é permitir que os cidadãos tenham a capacidade de discutir assuntos que os impactam de alguma forma na sociedade. E, sendo assim, tentando evitar que essas decisões fiquem restritas a uma parcela específica da população, devido ao seu caráter técnico. Entanto, é de responsabilidade dos divulgadores de ciência (cientistas a jornalistas), que o conteúdo transmitido seja claro e bem explicado. O objetivo disso é que ele possa ser consumido e entendido por pessoas fora daquele campo do conhecimento. Talvez, esta premissa seja o maior desafio da divulgação científica.

 

E a divulgação geocientífica:

 

Projeto de divulgação científica em geociências para garotas realizado pelo Departamento de Geologia e Paleontologia do Museu Nacional – UFRJ Fonte: Museu Nacional – UFRJ

 

Esta tem por fim proporcionar ao público geral e autoridades políticas a compreensão do mundo a sua volta e, consequentemente, promover uma interferência positiva no meio ambiente. Ela é dependente da maior oferta de conhecimentos gerais e estímulos intelectuais, para possibilitar sua compreensão. Entretanto, os chamados meios não-formais de ensino, como museus, parques naturais, imprensa e a indústria cultural em geral, exercem atualmente o principal papel de difusão desses conteúdos. A fim de possibilitarem a construção do conhecimento necessária para uma pessoa de escolaridade mediana se informar e ser capaz de tomar decisões solidamente apoiadas na ciência da Terra. Porém, ainda são insuficientes, e por vezes equivocados.  Além disso, há uma ausência ou alta dispersão desses conhecimentos no atual currículo educacional do país. Dessa forma, o consumo adequado destes conhecimentos fica restrito a academia de geociências e correlatas.

 

Possíveis reflexos na população e comunidade de geociências

A maioria da população não sabe o que é a geologia ou tampouco a profissão de geólogo. Por vezes, têm consciência de outras profissões, como geógrafos e meteorologistas. Entretanto, estes tratam de outros aspectos do planeta. Devido a falta de informação, as pessoas geralmente não entendem o interesse dos geólogos por “pedras comuns”. Por vezes não sabem que muitas das substâncias minerais são derivados das rochas. Ainda, o pouco material que se encontra  com a pretensão de introduzir as geociências é de difícil acesso, ou são pouco rigorosos e comummente sensacionalistas. E, como isso, afeta a ambas as partes: a população e a comunidade geocientífica.

 

A população

O possível reflexo na população se expressa majoritariamente na parcela economicamente desfavorecida de nossa sociedade. Sendo eles os principais atingidos pelos desastres e problemas ambientais causados por causas geológicas. Isso é fruto de um comportamento incorreto da população em relação ao meio ambiente, aliado as más gestões públicas. Isso é resultado do descaso na difusão de princípios geológicos, poucos entendem e sabem explicar estes processos.

 

Recorrente nos meses chuvosos, os deslizamentos de terra aflige boa parte da população que habita locais de risco Fonte: gazetadopovo.com por Gabriel Lopes

 

E, assim, a população segue a ocupar locais inadequados, que os colocam em risco. A perpetuar atitudes que promovam inundações, poluição e/ou assoreamento de corpos hídricos e desaparecimento do solo fértil. Até que a sociedade seja conscientizada da importância da geologia, os geólogos (ou a ausência deles) são notados somente após os desastres e os problemas já terem ocorrido.

A comunidade de geociências

A comunidade é formada por profissionais e estudantes de geociências, além das áreas que são tangenciadas por esta. Dessa forma, existem reflexos que afetam estes grupos, devido a falta de um compartilhamento mais eficiente do saber geocientífico. São essas alguns dos fatos mais perceptíveis:

 

 

Benefícios da divulgação geocientífica

Fornecendo-se à população e ao poder público uma compreensão melhor do ambiente em que se vive e das leis que controlam o seu comportamento, por exemplo, facilitaria a prevenção de desastres como deslizamentos de terra. Além disso, contribui na conscientização sobre a dinâmica do meio ambiente e a difusão do conceito de sustentabilidade.

A maior compreensão sobre a função da geologia e do geólogo pode proporcionar o aumento da demanda para órgãos como CPRM (Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais) e ANM (Agência Nacional de Mineração), além de consultorias. O que, por consequência, possibilita a maior colocação para geólogos no mercado e outros profissionais correlatos. Consequentemente, a segurança em sua principal atividade: o trabalho de campo. 

Por fim, a  inserção de certos conhecimentos de geociências no currículo escolar possibilitaria uma formação humanísticas. Dessa forma, proporcionando a compreensão de como o planeta funciona e o que isso vem a significar. Como também o desenvolvimento de novas atitudes e valores com o meio em que vivemos.

 

Para que a divulgação geocientífica seja possível

Para isso, é necessário também a conscientização da comunidade geocientífica, a qual provavelmente desconhece os benefícios passíveis a serem obtidos pela divulgação. Ainda, ocorre o fato de não haver valorização ou mérito acadêmico para a divulgação científica tanto pela comunidade quanto a academia na progressão de carreira destes profissionais. Sendo assim, torna-se escassas as tentativas por parte da comunidade. O que pode ser observado pelo pouco interesse nas escassas colaborações entre jornalistas e geocientistas. Isso reduz o conhecimento dos jornalistas sobre a área, que consequentemente se reflete em informações sensacionalistas.

 

Mostra de profissões na UFMG. Alunos utilizam estereoscópio, o aparelho permite ver o relevo nas fotografias. Muito utilizados por geólogos na confecção de mapas. Fonte: ufmg.com

 

Ademais,  não há dúvidas que exista um baixo interesse da população em consumir esse tipo de conteúdo. Este talvez seja um dos maiores desafios da divulgação científica no geral: tornar o conteúdo agradável e despertar o interesse das pessoas. De certa forma, não basta apenas apresentar novidades ou informações como verdades, é necessário explicar o porquê e como. É preciso aproximar a informação do público, demonstra-lo como foi obtido e, quando possível, sua aplicação. Alguns conhecimentos são inevitáveis a necessidade de construção de saberes para a sua compreensão, e outros são conhecimentos de base, sem aplicações definidas no momento. Portanto, fica a dúvida se é possível ou necessário apresentá-los à população. Como a pesquisa científica em nosso país é fruto do investimento público, sempre será necessário comunicá-la à sociedade.

Temos o desafio de como comunicá-las. Assim, é necessário que nós, os responsáveis pela divulgação, tenhamos senso crítico em relação aos meio que realizamos está atividade. 

 

Autor: Robert Correia

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