Geoparques e a preservação da Geodiversidade
Quando falamos de diversidade, dificilmente pensamos na geodiversidade. Entretanto, ela é muito importante para a preservação de traços de nossa evolução, além disso, guarda os segredos do interior da Terra. No texto de hoje você conhecerá o conceito de geodiversidade e de geoparques, além da importância e como disfrutar dos traços deixados pela Terra.
O conceito de Geodiversidade
A geodiversidade, como o próprio nome já sugere, é o conjunto de ambientes, fenômenos e processos geológicos que dão origem ao que conhecemos, como por exemplo, paisagens, rochas, minerais, solos, fósseis, entre outros.
O conceito ainda é bastante abrangente e vários autores o definem com diferentes nuances. De acordo com a Royal Society for Nature Conservation, por exemplo, geodiversidade “refere-se à variedade de ambientes geológicos, fenômenos e processos geradores de paisagens, rochas, minerais, fósseis, solos e outros depósitos superficiais que constituem a base para a vida na Terra”.
A princípio, muitos aspectos podem ser utilizados para classificar e definir a importância dos elementos de geodiversidade. Alguns deles são o uso do sistema geológico, para a sociedade, ou como reservatório de ecossistemas. Ademais, podem ter um valor cultural para determinados grupos de pessoas, onde a geodiversidade assume um caráter mais religioso e espiritual. Para exemplificar essa ideia, pode-se citar o geoturismo que enfatiza algumas grutas e cavidades naturais do estado de Minas Gerais, onde podemos encontrar imagens de adoração a alguns santos.
Todos os aspectos são levados em consideração quando da valoração da geodiversidade de um local para sua posterior catalogação e investimento em geoparques e geossítios.
Como a Geodiversidade começou a ganhar espaço?
A preservação do patrimônio geológico é bem recente. Por certo, nunca havia se pensado antes em preservar elementos do meio abiótico, da mesma forma que acontece com o meio biótico (plantas e animais, por exemplo).
A primeira grande movimentação em prol da geodiversidade e do patrimônio geológico ocorreu em 1988, quando da criação do European Work Group for Earth Science Conservation. Eles mapearam várias áreas que necessitavam ser conservadas e começaram com a construção dos geoparques nessas áreas.
Já no âmbito mais global, a ação mais forte se deu pela criação da Rede Global de Geoparques pela UNESCO em 2004. Nessa rede, tem-se o objetivo de mapear e catalogar áreas de importância geológica para o meio abiótico e torná-los geoparques. Assim também, dentro desses geoparques, tem-se geossítios, pontos com centros de visitação e divulgação de informações científicas sobre os elementos ali protegidos.
O que são os geoparques?
Primeiramente, os geoparques, nada mais são do que espaços físicos que são protegidos graças ao seu patrimônio geológico. Pontos com descontinuidades, embasamentos aflorantes e formações raras podem ser considerados pontos dentro de uma área que pode ser protegida por um geoparque. Esses pontos são conhecidos como geossítios e quanto mais geossítios existirem em um geoparque, mais importante essa área se torna.
Em segundo lugar, para se tornar um geoparque, a área precisa atender a alguns quesitos estabelecidos pela UNESCO. Dentre eles, a área deve ter atividades de geoturismo; deve oferecer visitas guiadas em prol da pesquisa científica e de sua divulgação, como trilhas e museus; seus pontos de interesse devem ser geridos e mantidos formalmente. Além disso tudo, o parque deve ter um plano de manejo e estudo do território e de seu potencial para desenvolvimento econômico.
Em 2018, 13 novas áreas foram integrados à lista mundial de geoparques UNESCO. Você pode conferir sobre eles aqui.
Geoparques brasileiros
O Brasil é um país de extensão territorial muito grande e, por essa razão, desfruta de muitas belezas geológicas. Contudo, essas belezas são esquecidas muito frequentemente, e somente contamos com um geoparque catalogado pela UNESCO.
O Geoparque em questão é o de Araripe, no Ceará. Ele foi o primeiro geoparque da América Latina a ser criado e conta com nove geossítios em seu território. Originalmente o parque contaria com 59 geossítios, mas era um número muito grande. Por esse motivo, foram escolhidos nove a partir de relevância cultural, geológica, paleontológica, histórica e ecológica.
Além disso, ele conta com 3441 km² de área, onde se distribuem seus pontos. Esses pontos contemplam desde a estátua do Padre Cícero, que se encontra em uma colina de embasamento de mais de 650 milhões de anos até mesmo pedaços de troncos petrificados datados em aproximadamente 150 milhões de anos. Ademais, outros geossítios do geoparque podem ser encontrados na página do local, aqui. No site também pode-se encontrar roteiros e guias para a prática de geoturismo.
Possíveis novos geoparques
Todavia, apesar do Brasil contar com somente um geoparque verdadeiramente catalogado na UNESCO, muitos outros estão em processo para se tornar geoparques. O processo é longo e passa por muitas etapas, porém em todas as regiões brasileiras pode-se encontrar potenciais áreas para a criação de geoparques.
Decerto, existem hoje 17 propostas em tramitação na UNESCO. Dessas, três se encontram em avançado estágio de implementação como geoparque. Já em estudos feitos pelo SIGEP junto ao DNPM, podemos encontrar mais de 32 propostas de geoparques, que contemplam a geodiversidade brasileira, que é muito marcante.
São eles: Quadrilátero Ferrífero; Bodoquena Pantanal e Costões e Lagunas do Rio de Janeiro. Nesses três casos, houve a tentativa de uma primeira submissão para aprovação. Os três foram negados, porém equipes continuam trabalhando para atender a todos os requisitos e melhorarem a estrutura dos locais. Essa melhoria se dá com a implantação de museus, espaços de educação, trilhas, entre outros, para que sejam aprovados.
É importante que a sociedade entenda a necessidade dos geoparques, já que eles são a janela da evolução do planeta e de nós, enquanto seres humanos. Que tal aproveitar para praticar mais o geoturismo? Se você não sabe por onde começar, este texto pode te ajudar!
Autora: Gabriella Lorena
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